quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Por que a maioria rejeita a privatização?

No domingo, 18/11/07, o jornalista Ethevaldo Siqueira publicou no Estadão uma interessante matéria sobre a privatização das telecomunicações no Brasil .

A matéria é muito boa, mas, sinceramente, em se tratando do Ethevaldo, eu esperava mais.
Com anos no mercado de telecom, produzir uma peça desse tamanho sobre a privatização de telco sem mencionar em nenhum momento as desconfianças geradas pela processo em si me parece uma falha significativa.

Na época do processo houve acusações de favorecimento. A estrutura de propriedade das empresas definida no plano inicial não durou muitos anos. As empresas criadas na privatização, por um planejamento considerado fundamental para evitar a substituição de um monopólio estatal por um oligopólio privado, acabaram sendo objeto de um processo violento de consolidação. Claro, Americel, Crt Celular, Telemig Celular, BCP, etc. desapareceram ou são só CNPJs a serviço das atuais megaoperações.

Também do lado das metas estabelecidas na época, a evolução tecnológica ajudou a desgastar o modelo. Quem se lembra ainda das metas de universalização que incluíam a obrigação de instalar e manter orelhões, que tanta reclamação causavam por parte das novas empresas? Hoje a BrT faz publicidade pra vender cartão prá usar no orelhão.

Além do problema político, que está bem posto no texto, o colossal problema de marketing está pouco explorado. As operadoras focam em redução de custos. Daí fecham as lojas e postos de atendimento. Tudo vira call center e internet, e com scripts feitos para não atender cancelamentos e reclamações. Qualquer usuário que ligar para uma operadora para desligar um telefone (fixo ou celular) vai ter muito (bota MUITO nisso) mais trabalho do que para ativar uma linha telefônica.

As estatísticas de base de usuários das operadoras são infladas. Se você um dia teve um celular de uma operadora, pode apostar que seu nome ainda consta da base de usuários dela, mesmo que já tenha cancelado o serviço há meses/anos.

Agora, que a falta de memória e a falta de vontade de comparar o passado com o presente são pontos importantes, ah, isso é absolutamete certo. Acho que devíamos propor uma campanha nacional: EU JÁ DECLAREI TELEFONE NO IMPOSTO DE RENDA.
Talvez ajudasse o povo a lembrar...

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Revendo os EUA (parte I - San Francisco)



São Francisco, em janeiro de 2004, durante nossa experiência californiana.


Blog do Aconteceu

Mais uma da série familiar.
Como bom adolescente antenado, o Xande (meu filho) já tem o blog dele. Criado a partir da revista Aconteceu, que foi montada por um grupo do Colégio Monteiro Lobato, o Blog do Aconteceu parece um pouco maduro demais prá ter sido feito por gente de 14 anos, mas é bem interessante.

Vale uma passada em http://blogdoaconteceu.blogspot.com/ para conferir material variado, inclusive o vídeo que eles fizeram sobre a venda de bebidas alcoólicas para menores de idade. A coisa saiu de controle e acabou no programa do Alexandre Appel na TV Ulbra.

Acho que o Tiago, o Alexandre e a Ana vão acabar na área de comunicação...

Una Pareja y sus Tonterías

Hoje entrei pela primeira vez no blog do Alfeu e da Melissa.
Explico: assim como um dia nós fomos parar na Califórnia, o meu cunhado mais novo, que é um baita médico, foi parar em Barcelona.
O blog Una pareja y sus tonterías é o registro dessa experiência.
Dêem uma olhada em http://www.unapareja.blogspot.com/ se quiserem conhecer mais do Velho Mundo pela ótica de um casal de Colorados...

Um grande abraço e muitas felicidades para eles.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O alcool combustível e a nova economia

Treze anos depois do Plano Real, que conseguiu trazer a hiperinflação brasileira a padrões civilizados, a oscilação dos preços do álcool combustível está começndo a ensinar aos brasileiros, na prática, uma lição básica das economias "normais".

Depois de anos em um cenário em que preços só subiam, o álcool oscilou fortemente para baixo durante a safra deste ano, que se aproxima do final. Em São Paulo, o preço nas bombas caiu a menos de 1 Real. Em Porto Alegre, a média está pouco abaixo de R$ 1,50.

Com o fim da safra, o valor deve voltar a subir, reiniciando um ciclo comum às commoditties agrícolas. Baixa na safra e sobe na entressafra.

Com dólar caindo e preço interno da gasolina relativamente estável, a oscilação do álcool pode estar nos ensinando que preços podem subir, mesmo sendo o preço de combustíveis, sem que seja preciso indexar tudo a eles, até porque vão cair daqui a pouco, podendo até descer abaixo do ano anterior, quando uma safra bem sucedida tornar maior a produção disponível.

O álcool combustível, associado aos carros flex, pode estar reabilitando no Brasil a esquecida Lei da Oferta e da Procura em sua versão mais simples.

Somada ao aumento do crédito na economia, esta notícia pode ser mais um passo importante para restabelecer ceros princípios no país. E tornar nossa vida mais parecida com a de outros países.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Como ainda estamos atrasados

Na última quarta-feira tive oportunidade de assistir uma excelente palestra, ministrada pelo CEO da Petroquímica Triunfo, sobre o papel da Tecnologia da Informação nas empresas.
Ao final, quando foi iniciado o diálogo com o palestrante, um dos presentes revelou o ponto de vista que, provavelmente, não era só dele, ao perguntar a Cezar Mansoldo se existia vida além do sistema SAP.
Depois de explicar que usava o nome do sistema integado da SAP porque esta era a solução que ele encontrara na Triunfo, mas que o espírito da coisa era que o ERP era a camada báscia que permitia a ele, como CEO e a empresa, operarem tratando as exceções, Mansoldo reforçou sua opinião de que isto era o básico para poder direcionar a empresa estrategicamente.
No mesmo local ( o auditório da AMCHAM-RS), algumas semanas atrás, um executivo da Rossi Residencial, descrevendo os avanços que sua empresa estava obtendo no mercado em função da evolução da oferta de financiamento imobiliário pelos bancos, com taxas mais baixas e prazos maiores, fizera comentário semelhante, dizendo que a Rossi só conseguira ampliar a quantidade de empreendimentos porque antes (em 2001) investira em uma infra-estrutra de gestão: o sistema da SAP.
No entanto, apesar de inúmeros exemplos como esses, empresários e técnicos ainda discutem, ou melhor, tentam negar a necessidade da utilização de sistemas de gestão nas empresas.
Em 2003, Nicholas Carr publicou na Harvard Business Review um artigo (IT doesn't matter - http://www.amazon.com/exec/obidos/ASIN/B00009MBYN/amazingbooks0b0), onde ajudava a estabelecer a polêmica no extremo oposto: TI não era mais elemento de diferenciação, mas parte do Custo para Fazer Negócios (Cost of Doing Business no original). O Superintendente da Petroquímica Triunfo disse quase a mesma coisa, citando como exemplos do que todos os seus concorrentes já tinham a certificação ISO, o ERP e o controle automatizado do chão de fábrica (via SDCD - Sistema Digital de Controle Distribuído).
Mas em agosto de 2007, pelo menos em Porto Alegre, isto ainda soava exótico e aparentemente questionável para alguns.
Enquanto para muitos estas já sào páginas viradas, etapas já endereçadas do "basicão". para muitas de nossas empresas ainda cabe discutir se e quando, ou cabe adiar a adoção destas medidas.
Como somos atrasados!

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Methods from Human Resources

1. Put 400 bricks in a closed room.

2. Put your new hires in the room and close the door.

3. Leave them alone and come back after 6 hours. Then analyze the situation:

a. If they are counting the bricks, put them in the Accounting Department.

b. If they are recounting them, put them in Auditing.

c. If they have messed up the whole place with the bricks, put them in Engineering.

d. If they are arranging the bricks in some strange order, put them in Planning.

e. If they are throwing the bricks at each other, put them in Operations.

f. If they are sleeping, put them in Security.

g. If they have broken the bricks into pieces, put them in Information Technology.

h. If they are sitting idle, put them in Human Resources.

i. If they say they have tried different combinations, they are looking for more, yet not a brick has been moved, put them in Sales.

j. If they have already left for the day, put them in Management.

k. If they are staring out of the window, put them in Strategic Planning.

l. If they are talking to each other, and not a single brick has been moved, congratulate them and put them in Top Management.

m. Finally, if they have surrounded themselves with bricks in such a way that they can neither be seen nor heard from, put them in Congress.

Esta mensagem é dedicada a todos aqueles que acham que (só) os nossos políticos são ruins.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

TAM 3054: Ninguém tinha nada a ver com isso

Hoje pela manhã, o (ir)responsável pela ANAC, Sr. Milton Zuanazi, declarou que a ANAC não tem nada a ver com o acidente de Congonhas porque não caberia a agência o controle das atividades das cias. aéreas.
Nada a estranhar, pois o Sr. Ministro da Defesa, Waldir Pires já declarara que seu ministério não é responsável pelo controle do espaço aéreo e pela organização das atividades das mesmas cias. aéreas.
O que também é um reflexo do Sr. Presidente da República, que mais de uma vez disse que não era com ele ou que não sabia de nada.
O Presidente da TAM e seus Diretores também informaram que o Airbus pode voar sem o reverso e que isto não teve nada a ver com o acidente.
Alguns meios de comunicação começam a dar espaço a idéia de que o congestionamento de Congonhas não teve nada a ver com o acidente.
Se Congonhas fôsse Narita, o aeroporto japônes de maior tráfego aéreo, e o acidente tivesse acontecido lá, a esta altura os brasileiros estariam chocados com o (provável) suicídio do Diretor da agência japonesa encarregada do transporte aéreo. O Responsável pela cia. aérea provavelmente teria tomado caminho semelhante. Para aquela cultura milenar, a vergonha pelo acontecido em um setor ou empresa de sua responsabilidade não pode ser apagada. Pode ser apenas diminuída pelo suicídio ritual.
No Brasil, o acidente foi culpa da chuva, da tripulação e de quem mais não puder se defender.
Nem governo, nem empresas envolvidas assumem a responsabilidade.
Indo mais longe, os responsáveis pela obra na pista, onde estão? Porque não publicam, nos jornais de circulação nacional, as cartas que enviaram a INFRAERO e à ANAC pedindo que a pista NÃO fôsse liberada antes do final das obras.
Ou a sociedade brasileira entende o que está acontecendo e começa a mudar seus valores ou então continuaremos ladeira abaixo na (ir)responsabilidade geral.

terça-feira, 10 de julho de 2007


Mais um exemplo da mão-de-obra chinesa em fábricas de revestimento cerâmico. Os carrinhos são a versão chinesa da empilhadeira.

Detalhe importante: isto acontece em uma empresa chinesa de primeira linha, pois só estas empresas estão autorizadas a produzir para a exportação e podem ser visitadas por estrangeiros.

Em termos brasileiros, apesar de todos os nossos problemas, encontrar algo assim numa empresa é muito difícil.

Além da gestão governamental sobre o câmbio, a manufatura fortemente baseada numa mão-de-obra extremamente barata torna a "economia de mercado"chinesa um concorrente muito difícil de ser batido.

Resta as empresas nacionais passarem a usar a China como manufatura e ficarem com a parte de gerenciamento de marcas e desenvolvimento de produtos. Pelo menos até os chineses chegarem lá também.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Competir com a China, quem há de?


Esta foto, feita em 2006, durante uma visita a fabricantes chineses de revestimentos cerâmicos, ajuda a explicar porque é quase impossível competir com os custos chineses: eles são intensivos em mão-de-obra chinesa, barata e abundante.

Carrinhos de mão ao invés de empilhadeiras, e é mais ecológico, pois não usa eletricidade ou gás para movimentar os materiais. Tudo movido pela ação muscular do operador.

Alguém aí sabe como se diz economia de mercado em mandarin ou cantonês?

Paradoxos do RH

Pequenos paradoxos do mercado de trabalho

Empresas e mais empresas de recrutamento utilizam a Internet e outros meios de divulgação para oferecer seus serviços em um mercado repleto de profissionais em busca. Uns em busca do primeiro emprego, outros em busca de uma oportunidade melhor, outros em busca de mais salário, outros ainda buscando uma mudança de vida.

Quando um profissional vai conversar com um desses "caçadores de cabeça" se passa um diálogo interessante e non-sense: o recrutador, travestido de conselheiro, revela ao candidato (ou candidata) que 70% (o percentual pode variar de acordo com a honestidade do recrutador) da probabilidade de encontrar a tão sonhada posição vai depender do seu "networking". Aliás, isto também está nas páginas das revistas que falam de carreiras (e quantas há, hoje em dia).

Mas se 70% da chance depende do meu networking, porque os serviços do recrutador custam tão caro?

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Dinheiro para a eleição



A imprensa em geral e muitos analistas da cena política brasileira, em seus comentários sobre corrupção, lobby e contribuições para campanhas, pouco ou nada têm contribuído para a análise do modelo de financiamento de campanha poilítica que queremos para o nosso país.

Em primeiro lugar, precisamos entender que uma campanha para um cargo público custa (muito) dinheiro. Podemos começar a perder tempo aqui, discutindo como fazer para que as campanhas sejam mais baratas (ou menos caras), mas isto não ataca o ponto básico: mesmo barata (conceito relativo), uma campanha custa dinheiro.

Se não houver um mecanismo de captação de recursos, só quem já têm dinheiro poderia gastá-lo para buscar uma eleição. Isso levaria a uma dificuldade ainda maior das classes menos favorecidas se fazerem representar, o que reduziria a representatividade da nossa democracia.
Por outro lado, a origem do dinheiro é menos importante: pouco se sabe, se publica e se divulga sobre o cruzamento das fontes oficiais de uma campanha. Fica difícil, por exemplo, identificar aquelas empresas que contribuem para vários candidatos, as vezes de partidos tidos como "inimigos".

A menos que se adote o modelo de financiamento público exclusivo, a desigualdade tende a permanecer: se o candidato A pertence a uma classe mais abastada, tende a ter um ponto de partida ($$$) nos seus próprios recursos e tende a ter os contatos que lhe permitiriam angariar mais fundos, mais rapidamente.

Em muitas democracias mais antigas, pratica-se esta modalidade por falta de outra melhor e por crer que, desde que feita legalmente e com transparência, a doação para campanha de alguém é uma forma lícita de defender interesses igualmente lícitos.

Se, por exemplo, um banco apóia um candidadto A, e o sindicato dos empregados neste banco apóia B, teremos uma tendência ao equilíbrio e a uma disputa (mais ou menos) equilibrada.

Na sociedade brasileira, o problema maior reside em outro aspecto: condena-se a doação legal, declarada, e convive-se com a doação ilegal, via Caixa 2, das empresas para as campanhas.

Interessante notar que o que se aponta como fonte de corrupção aos políticos, nasce de um fundo ilegal (o Caixa 2), criado a partir da sonegação fiscal. Poderia ser chamado de corrupção profunda.

A condenação da doação legal pelo fato em si, muito comum em nosso meio, acaba empurrando a questão para um simplismo tolo: se um político aceita dinheiro de doações, ele com certeza está "comprado" pelos doadores. Se ele não aceita, provavelmente não têm como pagar uma campanha. Ou então ele aceita a doação ilegal!

O aspecto menos discutido, é a ligação entre os doadores da campanha de um candidato e o comportamento deste candidato nas votações. Em democracias mais antigas e experientes, há mecanismos, oficiais ou não, para acompanhar os votos de cada Congressista e relacionar (ou não) o voume de doações com os votos em temas de interesse dos doadores. Assim é possível saber, por exemplo, nos EUA, quanto um congressista recebeu de doações e como ele vota (tem gente que recebe doação, agradece e vota com a sua consciência).

Seria interessante (até para os que pagam) saber como fica isto no Brasil. Creio que talvez alterasse os hábitos de contribuição das empresas se elas vissem como votam aqueles para quem elas deram dinheiro!

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Violência x álcool

Na semana passada, o Secretário de Segurança do Rio Grande do Sul propôs aos 10 munícipios mais violentos do estado a interrupção da venda de bebidas alcoólicas nas noites de sexta e sábado, como forma de reduzir a violência.
Pouco tempo antes, o Ministro da Saúde estabeleceu uma polêmica pública com Zeca Pagodinho com relação a publicidade de bebidas.
A sociedade brasileira aparentemente está mais uma vez mostrando uma de suas faces mais cruéis: indignação com os resultados mas quase nenhuma vontade de atacar as causas.
Como no caso do cigarro, anos atrás, o álcool participa da violência e causa prejuízos materiais e humanos sem que as pessoas, e por consequência, muitas autoridades, queiram admitir o chamado nexo causal.
Fulano tem um comportamento agressivo. Se tiver tomado "umas", o comportamento agressivo pode se transformar em uma surra na mulher ou nos filhos. Se ele for dirigir, pode matar, ferir ou demolir carros, pessoas e outros bens. Se tiver arma em casa, o excesso de bebida pode terminar em tiroteio.
Mas nós gostamos de achar que antes de tudo vem o problema social, senha para não fazer nada.
O álcool em excesso não prejudica apenas ao alcólatra. Este é um doente que deve ser tratado. A piada antiga mas instrutiva já descreve: ao beber, o homem vai assumindo a forma de animais. Primeiro o Macaco, dizendo e fazendo coisas engraçadas, ficando espirituoso, etc. Depois o Leão, que manda em todos, ruge, provoca, etc. Por fim, o Porco, vomitando em tudo, sujando tudo, etc.
Lamentavelmente, os próprios representantes das Prefeituras, no caso do RS, citaram a necessidade de medidas sociais (sem dizer quais), e o desemprego (dos funcionários dos bares e casas noturnas), como razões para não colaborar com o Secretário de Segurança, enquanto o pagodeiro dizia para o Ministro "deixar o Zeca trabalhar".
Se o Zeca limitasse o seu trabalho a música, e se a sociedade brasileira, através de todos os seus mecanismos, apoiasse realmente o uso consciente da bebida alcólica, talvez a situação pudesse evoluir.
Caso contrário, vamos continuar a acreditar que só quando todos tiverem emprego, só quando todos tiverem educação, é que se poderá começar a reduzir a violência. Aí pode ser tarde demais, ou pode não chegar nunca!


terça-feira, 22 de maio de 2007

Crédito positivo e a economia

Cresce no Brasil o debate sobre o crédito positivo. De forma oposta ao SPC e outros registros negativos hoje vastamente usados no país, o crédito positivo informa o lado correto e identifica os bons pagadores.

A facção brasileira que é contrária a este novo fator nas relações entre consumidor e fornecedores se preocupa (aparentemente) com a maior circulação de informações sobre o consumidor e a consequente perda de privacidade.

Justificando o nome do blog, aqui vai a minha opinião, e desde já declaro a minha total parcialidade, influenciada pela experiência americana: sou completamente a favor do perfil de crédito positivo.

Para entenderem o porquê, um pouco de como funciona o modelo americano: a medida em que você tem compromissos mensais, como a conta da água, da luz, o aluguel, etc., você vai criando um perfil. Tem gente que paga suas contas sempre em dia, tem gente que paga antes do vencimento, tem gente que esquece, etc.

Lá, agências especializadas (pelo menos 3, as maiores), acompanham estas informações e as disponibilizam para quem vende produtos ou serviços. Você entra numa loja, compra algo a crédito, ou um serviço, como um celular, e a loja solicita a análise do seu perfil. Baseado no seu comportamento anterior, a agência de crédito dá uma opinião sobre a sua capacidade de honrar os pagamentos. E a loja concede o crédito, ou entrega o serviço.

A grande vantagem disso é a forma pela qual este mecanismo se tornou universal na economia americana. Através dele você usufrui os principais benefícios de uma economia estável (com quase nenhuma inflação) e com pleno emprego. De um celular ao leasing de uma Mercedes Benz, tudo é feito com base no crédito. Claro que com taxas de juro diferentes das nossas.

No caso brasileiro, o crédito positivo reduziria uma das justificativas usadas para o crédito mais caro do mundo (a nossa taxa real de juros ao consumidor). O "spread" bancário ficaria mais "transpaerente", ou seja, ficaria mais claro o que é risco de crédito e o que é uma taxa real de juros absurda, balizada pelo grande tomador, o Senhor Governo.

Obviamente, num país onde se compra o CD com o cadastro de CPFs no camelô da esquina, a privacidade dos dados é relativa. O que os americanos descobriram é que ter acesso ao seu próprio histórico de crédito é a forma mais eficiente de evitar o roubo de identidades, ou seja, saber que alguém usou os seus dados para pedir um cartão de crédito ou pior, interceptou o cartão não solicitado, enviado a você e usado por terceiros em seu nome, que só vai aparecer no dia em que o SPC ou o SERASA derem negativos. garantir esse direito (que nos EUA é um serviço que custa cerca de 40 dólares por ano) é uma das missões para os órgãos reguladores brasileiros.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Dicas americanas

Baseado na nossa experiência pessoal, na mudança de Porto Alegre, RS para Irvine, CA, ocorrida em 2003, aqui estão algumas dicas sobre a mudança, adaptação e primeiras providências. O processo todo pode parecer um pouco assustador, mas fica fácil depois de passarmos por ele.

A viagem

O processo todo começou na primeira viagem de trabalho feita para a Califórnia. Naquele momento, com a ajuda de colegas brasileiros que já moravam lá, fui conhecer a região e, num sábado pela manhã, visitar pela primeira vez alguns condomínios.

Antes da mudança propriamente dita, realizamos uma viagem, com a família toda, para conhecer o local onde iríamos morar. Nesta etapa, após o trabalho, saíamos para visitar os condomínios e outros possíveis locais para facilitar a escolha. A exist6encia de empresas especializadas em aluguel de propriedades tornou a busca muito mais simples. A seleção inicial era feita via internet, cabendo a mim ir a alguns locais pré-selecionados para validar a escolha anteriormente feita. Características importantes para nós naquele momento, como garagem, lava-roupas dentro do apartamento e espaço físico total puderam ser usados como critério de busca, além da localização, escolhida com base nas dicas dos colegas que já moravam por lá.

Baseado neste processo, quando desembarcamos em Los Angeles em definitivo, numa quinta-feira pela manhã, depois de nos instalarmos no hotel e encaminharmos o documento do Social Security (ver adiante), fomos direto aos 3 locais anteriormente selecionados.

Entre a sexta e o sábado pela manhã, fechamos nossa escolha e começamos a preparar o processo de locação. Usamos uma carta de apresentação, fornecida pela empresa, e um depósito de 2 meses do aluguel, para fazer frente ao problema de não ter histórico de crédito, sem precisar comprometer ninguém como avalista. Este depósito, como todos os outros descritos a seguir, foi devolvido depois, parte ao findar do primeiro ano de aluguel e o restante na nossa saída do condomínio.


Crédito

A economia americana funciona com base no crédito pessoal, que depende do seu histórico. Com o tempo, pagando suas contas de água, luz e outras em dia, seu histórico vai se construindo e, após mais ou menos 6 meses, você passa a desfrutar das vantagens de ter um histórico reconhecido.

Enquanto isso não ocorre, a solução normal é o uso de depósitos antecipados para garantir o crédito. Isto vai valer para o aluguel, para a luz, para o celular, etc.

A atenção deve ser dada para aqueles itens onde pode haver opção. Quando você escolhe uma casa para alugar, não têm opção com relação a luz, gás e água. Muitas vezes também não têm opção para telefone fixo e TV a cabo.

Para celular, sempre há opção, e ela é muito importante. Quando fui em busca dos primeiros celulares para a família, o depósito prévio variava de US$ 800 a US$ 150. Obviamente fiz o plano da empresa que cobrava US$ 150.

O lado bom é que o depósito volta em 12 meses, quase sempre de forma automática. As empresas colocam o depósito como crédito e descontam da sua conta (de luz, gás, telefone, etc.).

Cartão de crédito

Os cartões de crédito brasileiros não transferem o histórico dos clientes para os EUA. A única exceção é o American Express. Sendo usuário do AMEX no Brasil e tendo um endereço fixo nos EUA, basta ligar para a central do cartão e eles emitem um cartão a sua escolha (tem cartões com diversas catacterísticas, vale olhar o site antes). Normalemnete há um prazo mínimo de permanência antes deles emitirem o cartão.

Outra opção é solicitar no banco onde abriu conta um cartão de crédito com garantia. Você faz um depósito no banco e usa como se fôsse cartão de crédito para ir criando o seu histórico.

Os bancos normalmente oferecem um cartão de débito para quem abre a conta corrente. Funciona como facilitador para não carregar dinheiro, mas não substitui o cartão de crédito para tudo. Locadoras de automóvel, por exemplo, requerem cartão de crédito. Neste caso, é melhor usar o do Brasil enquanto não têm o americano.

Social Security

É o primeiro e mais importante documento depois da chegada. Para solicitar basta preencher o formulário (que pode ser baixado da Internet) e entregar na repartição do Serviço Social. Leva normalmente 2 semanas para ser entregue. É necessário para qualquer coisa que se vá fazer, de registro de emprego a carteira de motorista.


Carteira de Motorista

A legislação americana sobre este tema varia (como quase tudo) de estado para estado. Na Califórnia, você têm 10 dias a partir do momento em que fixa residência, para iniciar o processo junto ao DMV (o DETRAN deles). É importante notar que nos EUA não existe carteira de identidade. O documento básico de identidade deles (photo id) é a carteira de motorista. Mesmo quem não dirige pode solicitar uma, como identificação.

Na Califórnia, a prova escrita estava disponível em vários idiomas, inclusive o português. O livrinho com as dicas também estava a disposição no DMV, também em português. Já a prova de direção conta com examinador que só falava inglês. Coisas da América.

Em estados como a Flórida, com certeza vai ter gente falando espanhol, e até mesmo português. Mas é sempre bom conversar com os locais para saber as “barbadas”.

Compra do carro

A compra do primeiro carro da família foi complicada. Ainda sem crédito, procuramos muito por um carro dentro do valor que tínhamos para gastar. Como a Califórnia é muito cara, acabamos não encontrando. Compramos nosso primeiro carro (usado) em uma revenda Mitsubishi, por conta da garantia, por um bom preço (US$ 12.000), com baixíssima milhagem e 1 ano de idade.

Nos EUA, comprar um carro é um processo desgastante, onde nunca se pode pagar o preço anunciado. Na compra do segundo carro (já éramos especialistas), o vendedor foi me buscar dentro do carro, quando eu já estava manobrando para ir embora, para dizer que aceitava o negócio.

Dica: deixe para fechar o negócio no fim do sábado (a tardinha). Nesta hora os “dealers” precisam fechar a sua cota e fazem o negócio ficar mais fácil.

Carros japoneses (tivemos 2) sempre são mais tranquilos com relação a manutenção e durabilidade. Por isso mesmo, são normalmente bem valorizados. Nunca tivemos nenhuma despesa além de combustível e óleo nos nossos carros. A exceção foi um pneu furado na free-way. Até conseguir chegar e parar no acostamento, o pneu já estava inutilizado.

Colégio

Até 6 meses antes da mudança, nosso filho não tinha tido nenhum curso de inglês. Quando soubemos da possibilidade, ele passou a fazer aulas em Porto Alegre, num curso normal (Quatrum).

Na chegada a Califórnia, após avaliar o nível das escolas públicas da região onde fomos morar, optamos por uma escola pública. Procuramos o School District, que submeteu nosso filho a um teste, que é basicamente de capacidade de comunicação, e ele começou a ter aulas logo em seguida, numa escola próxima ao nosso endereço. Na Califórnia, o zoneamento é seguido á risca.

Na Myford Elementary, escola a cerca de 3 milhas (5 Km) de nossa casa, nosso filho estudou até concluir o ano. Para a etapa seguinte, ele precisou trocar de estabelecimento, pois a Myford não tinha Middle School. Foi para a Columbus Tustin, por escolha dele, auxiliado pelos professores da Myford, que o ajudaram a avaliar as opções e escreveram as cartas de recomendação para a nova escola.

Para simplificar, a escola nos EUA têm o Kindergarten (Jardim de Infância), depois 5 anos de Elementary, 3 anos de Middle e após a High School. Depois disso vêm a faculdade, mais aí é outro assunto. O importante é o apoio da família nos primeiros tempos. A primeira professora do nosso filho contava que nos primeiros dias ela e a turma ficavam impressionados com a velocidade do Alexandre ao procurar palavaras no dicionário português-inglês. Foi duro, mas valeu muito a pena para ele. É com certeza o maior capital que trouxemos de volta.