Quando o mundo começa a levar a sério o etanol como combustível, coisa que nós brasileiros aprendemos a desenvolver e hoje dominamos tecnologicamente desde a produção até o consumo, alguns adversários trazem a tona a questão da condição sub-humana dos cortadores de cana.
Não tenho nenhuma intenção de justificar o injustificável ou achar que a melhoria da condição dos bóias-frias deva ser lenta e gradual como a "distensão" que ajudou a trazer o Brasil de volta para a democracia.
Mas não podemos ser otários nessa história, como se o valor do etanol como produto e nossa posição nesse mercado devessem ser postos de lado, envergonhadamente, por causa dos bóias-frias.
Só para citar um caso emblemático, os Estados Unidos da América, democracia exemplar, (ainda) maior economia do planeta, terra do capitalismo de primeiro mundo, convive atualmente com sua versão "yankee" do mesmo problema - os colhedores de tomate da Florida.
Segundo o Senador Bernie Sanders, a situação destes operários, em sua maioria imigrantes, é tal que "a norma é o desastre e o extremo é a escravidão".
Em um dia típico, o "tomato-picker"colhe e descarrega cerca de 2 toneladas de tomate. Em troca deste trabalho, pode receber cerca de 50 dólares (menos de 100 reais ao câmbio atual). Este valor, que pode parecer elevado para os brasileiros acostumados com um salário mínimo de 400 reais, permanece nesse patamar por mais de 20 anos.
Os trabalhadores comparecem ao local de onde partem os veículos para as plantações por volta das 5:30 da manhã. Ali, os capatazes escolhem os que irão trabalhar naquele dia. Quem não for selecionado fica sem trabalho.
Dali eles são transportados para as fazendas onde trabalham até o final do dia.
Ainda segundo o Senador Sanders, os trabalhadores "alugam" lugares para dormir em trailers, por cerca de 50 dólares por pessoa/semana. São de 8 a 10 pessoas por trailer.
Como os tomates precisam de sol para secar, se chover não se pode colher. Se não colhe, não ganha.
O mais interessante dessa estória é que o subproduto mais importante dessa colheita não vai se transformar em combustível, nem vai reduzir a emissão de poluentes. Vai virar ketchup no McDonald`s, Burger King, Taco Bell ou KFC mais próximo.
Mas ninguém ameaça deixar de comprar "fast food" para obter um tratamento mais humano para os "tomato-pickers" da Florida.
Para quem quiser mais detalhes, a reportagem detalhada está na seção de blogs da The Nation em
http://www.thenation.com/blogs/edcut?pid=277332