terça-feira, 8 de julho de 2008

Tolerância zero é novilíngua?

Quando George Orwell criou 1984, recheou o romance com grandes idéias que sobrevivem por décadas. Uma delas foi a novilíngua, filha do duplipensar, que servia como ferramenta para reescrever a história.
Numa sociedade que avança(?) a cada dia para a ampliação do conceito de tolerância zero, com o cigarro (e os fumantes), com o álcool na direção, com os crimes de todos os tipos, poucos parecem prestar atenção para o fato de que tolerância zero pode querer significar o mesmo que intolerância.
Como é que intolerância sempre foi vista como um defeito e tolerância zero agora é vista como qualidade? Será que é novilíngua? (guerra é paz, liberdade é escravidão, lembram?).
Sem querer defender o indefensável, por exemplo, beber e dirigir, a intolerância, ou seja, não aceitar limites mínimos razoáveis para a bebida, quando aparecia nas religiões era visto como uma coisa antiga, difícil de aceitar. Várias religiões proíbem a ingestão de bebida alcoóloica. Isso era comumente visto como intolerância. E era ruim, chato, arcaico, etc.
A tentativa de mascarar as mudanças na história do modo como Orwell descrevia eram (e ainda são) características de regimes totalitários (no caso dele o foco estava naqueles que antigamente eram identificados como esquerda).
Modernamente, no Brasil do século XXI, parece que nossa sociedade está se tornando mais e mais totalitária, mais e mais fascista. Aparentemente, pelo que dizem as pesquisas, estamos todos nos tornando cada dia mais ciumentos dos nossos quinhões (afinal, a grande maioria apóia a tolerância zero).
Na Europa, novas leis contra os imigrantes, que um dia buscaram o sonho americano e agora buscam tirar uma casquinha do crescimento europeu. No Brasil, uma pressão cada vez maior por tolerância zero, por julgamentos sumários, uma mentalidade cada dia mais binária, mais simplista.
Será que leis intolerantes são efetivamente um avanço?