A coluna de Lauro Jardim no sítio da Veja comenta um aspecto interessante do problema com os cartões corporativos. Cita o deputado Ronaldo Caiado: "O governo está armando para ocultar responsáveis. Sem a presença forte dos Democratas, quem poderá ser preso é o vendedor da tapioca, em vez do comprador".
Na realidade, o que parece uma forma de fazer o Governo fugir da culpa é parte do nosso problema. Não existe corrupção de um lado só. Para cada transação ilegal (ou imoral) com cartão corporativo existe um corrupto (o portador do cartão) e um corruptor (que vendeu algo que não deveria estar sendo pago pelo Contribuinte).
Será que os operadores do Free Shop não sabem que não deveriam aceitar um cartão do Governo para pagar aquelas despesas? Será que os responsáveis pelas lojas, restaurantes e outros estabelecimentos não desconfiam que estão participando do desvio de recursos públicos?
Essa nossa falta de compromisso com a Nação contribui para o estado de coisas do qual nos queixamos depois. Cada vez que peço uma Nota Fiscal e o caixa da loja ou do bar me pergunta: qual é o valor? a indignação me sobe a cabeça. Respito fundo e respondo: o valor da despesa!
Dar uma Nota Fiscal com valor diferente do real é cometer o mesmo tipo de crime que quem recebe a nota comete ao apresentá-la em sua empresa ou "repartição".
Receber através de um cartão facilmente identificavel como do Governo (Federal, Estadual ou Municipal) por algo que é claramente privado (como um MP4 para os sobrinhos, filhos, etc.) é errado. E vai fazer com que os impostos devidos por aquele comerciante aumentem.
Enquanto não estabelecermos a conexão entre os dois lados da questão, a chance de reduzir significativamente o problema é pequena.
Precisamos de mais exemplos como o do filme Tropa de Elite para dizer, mesmo que de forma exagerada e parcial, que o traficante depende do consumidor de drogas assim como o portador do cartão corporativo com o Brasão da República depende da "vista grossa" do comerciante para consumar a falcatrua.
É por causa dessa identificação dos dois lados da transação que o cartão corporativo é uma ferramenta mais efetiva para controle do que o saque em dinheiro ou a conta de depósito antecipado. É mais fácil apresentar uma nota fria do que uma transação de cartão fria. A identificação da nota fria é muito mais difícil do que a transação eletrônica. A transação eletrônica é rastreavel, como diz a Ministra Dilma. Claro que é preciso que se queira rastreá-la...
Mas cada pagador de impstos pode fazer mais para evitar a corrupção se recusar o cartão corporativo para uma despesa claramente pessoal. Como uma tapioca...
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
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